Luiz Gonzaga Bertelli é presidente do Conselho de Administração do CIEE
Está se repetindo no Brasil a dupla tendência já detectada em vários outros países, em especial os mais desenvolvidos: a resposta dos candidatos até supera o crescimento da demanda de executivos de alta qualificação pelas organizações não governamentais (ONGs). Esse movimento vem na esteira da crescente adoção da governança corporativa pelas entidades do terceiro setor, que vivencia uma etapa de valorização da eficiência, da transparência e – como é inevitável em certos casos – da competitividade pela atração de recursos financeiros, deixando de lado o amadorismo e certa desorganização. Até porque a qualidade e a complexidade do atendimento dependem da existência de capitais humanos e financeiros demandados pela dimensão das carências sociais e econômicas dos milhões de brasileiros que necessitam de serviços assistenciais e filantrópicos, pois não os recebem, por razões diversas, nem do setor privado nem do governo.
A eficácia do novo momento vivenciado pelo terceiro setor tem bom testemunho na bem sucedida experiência do CIEE que, há 14 anos, pratica a governança corporativa, registrando como o mais expressivo resultado a sólida expansão da oferta de oportunidades de estágio e de aprendizagem – devidamente remuneradas e supervisionadas. Com isso, mais e mais jovens estudantes são beneficiados com o reforço da futura empregabilidade em paralelo ao estímulo à continuidade dos estudos. Entre os gestores, além da remuneração compatível com o mercado, a atuação no terceiro setor traz um diferencial que pode fazer toda a diferença: o executivo passa a trabalhar por uma causa, quase sempre gerando mudanças para melhor na vida de muitas pessoas. Essa satisfação fica fácil de avaliar quando o executivo ganha a consciência de que deve passar a medir seu sucesso por três métricas: o balanço financeiro, a habilidade de trabalhar em conjunto na gestão da ONG (tanto profissionais quanto voluntários) e, principalmente, o impacto social das ações de que participa. O processo de adaptação pode ser difícil, mas gratificação ao superar os obstáculos será muito, mas muito mesmo, maior.